I. [fora o velho, entra o novo]


I
Nonnus hominibus S. D.


Jamais haverá ano novo,
se continuar a copiar os erros dos anos velhos.
(Luís Vaz de Camões [?])


“Fora o velho, entra o novo!”, ressoam como címbalos estridentes os ecos da minha infância. Gritamos todos em uníssono gáudio a contagem decrescente. Batem-se testos na rua e dentro de casa, estalam rolhas do melhor champagne e tilintam os copos saudando o Ano Novo. Somo imersos numa grande alegria! Creio ver o teu sorriso de radiante, o teu olhar brilhante, feliz por mais um ano. Mas não. O que vejo é “o teu olhar derradeiro, / esse olhar que era só teu, / amor que foste o primeiro”.
Mas como de repente, a casa está vazia e eu volto à realidade da tua ausência. Chegou 2020 e eu não estou, como outrora, na nossa casa a festejar. Não és tu quem recebe o meu primeiro beijo, o meu primeiro abraço e te diz “mais um que já passou!”
Confesso que não estou totalmente triste. Este ano entrou, não tão barulhento, mas igualmente familiar e feliz em casa da Ariana. E foi tão bom! Começamos tão bem. E verdade que senti energia vigorosa para enfrentar os próximos 366 dias!
Enquanto recordo os anos novos passados, mais que saudade triste e revolta, vem-me uma espécie de paz, uma tranquilidade, uma pura alegria.
Não tarda aí o amanhecer… Recordo, então, um samba de Vinicius que nos diz isso mesmo, “para quê chorar / se o sol já vai raiar, / se o dia vai amanhecer, / […] / se existe amor?”
Scripsit in Portuensis Orbi
data Kal, Ian. MMXX

Comentários

Mensagens populares deste blogue

II. [repetita in formulae thesis]